domingo, 18 de abril de 2010

Banquete no bosque

No dia 20/03/2010 o grupo AMARTE retornou ao Parque das Dunas para mais uma reunião. Dessa vez o tema era o amor, ou melhor, a discussão sobre ele relatada no livro O banquete, de Platão. Segue a resenha apresentada por Eriluce Andrade:



A reunião dos sensatos: uma resenha sobre O Banquete
O Banquete recebeu este nome porque relata a reunião de amigos na casa de Agatão, onde cada qual celebrou o amor. Contendo traços de discurso direto, no qual cada personagem fala sobre o amor, sobretudo o amor (Eros), cada um procura definir o tema abordado.
Nele, Fredo diz que Eros é o deus mais antigo, pois não tem pai nem mãe. Pausânias fala sobre o amor popular, o que ama mais o corpo que a alma, e do celestial, que ama mais a alma que o corpo. Este último, fiel por toda a vida, por se unir a uma coisa mais duradoura. Agaton discursa em Eros a juventude, delicadeza, beleza, justiça, coragem, em suma, todas as virtudes. Aristófanes também faz seu discurso com o célebre dito mito dos andróginos. Segundo o qual, outrora três eram os gêneros da humanidade: masculino, feminino, sendo o homem descendente do sol, a mulher da terra, e o andrógino que tinha ambos os sexos e descendia da lua.
Era de tamanha força e vigor terrível, que tinham esses, que resolveram fazer uma escalada ao céu para desafiarem os deuses. Então, sendo assim, Zeus e os demais deuses, para puni-los, resolveram separar cada um em dois, para se tornarem mais fracos, e assim aconteceu. E cada uma das metades vivia procurando a outra, não conseguindo viver sem ela. E essa busca, esse desejo passa a se chamar Amor, que, quando satisfeito, é a condição da felicidade. Alega-o, também, que só se ama de verdade uma só vez, por ter apenas uma só metade, porém, poderia se enganar, e uma vez enganado, e esse seria salvo e continuaria à procura do seu grande amor, já que o outro não era.
Então, o que Aristófanes descreveu é o tal amor como sonhamos, talvez vivenciado. Logo Homero também afirma que sobre a virtude do amor, este não comete nem sofre injustiça, nem de um deus ou contra um deus, nem de um homem ou contra este, pois violência não toca em amor.
Para Homero, Amor é sinônimo de sofrimento, de certa forma, por amar talvez, uma pessoa que não corresponda ao amor oferecido, que é preciso pelo menos dois para fazer o amor. É como mostra André Comte-Sponville, em Pequeno tratado das Grandes Virtudes, “porque esperar uma coisa que não depende de mim?”, no caso, é da esperança que ele fala, quem espera, de uma forma, está sofrendo, pois está esperando, na ansiedade de algum resultado, de fato que são dois prazeres diferentes, cada um tendo suas escolhas, tanto no amor Eros, como no amor parental, como por exemplo um homem espere que sua mulher se dedique mais à ele, ou uma mãe que tem a esperança de que um filho consiga largar o mundo das drogas.
Notemos que Aristófanes diz que todo amor é amor a alguma coisa, que se deseja ou que falta (no caso, a metade perdida). Mas, a partir do momento em que se consegue, não mais faltaria aquela metade perdida, e não se pode desejar o que não falta. É aí que reside a diferença! A diferença que há entre desejar uma coisa ou desejar Aquela coisa, pois esta, já não é qualquer coisa.
Platão descreve que se ama aquilo que nos falta e que não possuímos. O que acontece com os corpos humanos, quando passam da Paixão ao Amor, porque amar não é só desejar, mas é exatamente essa mistura de desejar e estar satisfeito ao mesmo tempo.
Quando se ama, não basta amar e ponto final, acabou-se ali. Pois sempre estamos querendo mais alguma coisa, estamos sempre buscando, para não deixar entrar na rotina, deixar acabar com o amor que um dia existiu.
“O verdadeiro homem não é aquele que conquista várias mulheres, mas sim aquele que conquista a mesma mulher várias vezes”. Esse pensamento anônimo, tão repetido hoje em dia, resume essa idéia.
Comte-Sponville ainda afirma que há outros amores, mas “o amor Eros é o mais forte, em todo caso, o mais violento, o mais rico em sofrimentos, fracassos, ilusões e desilusões, tanto nesse como no amor parental”.
Desse amor também fala a Bíblia: “Um casal que não briga, não é um casal feliz. Pois estes vivem de fingimento”. E o que se entende por isso? Que o amor, enquanto virtude, também implica em sofrimentos. Afinal amor é dualidade (não se ama sozinho, excluindo-se Narciso, claro). Significa encontro, não unicidade. União sim, desde que a vontade de um não prevaleça sobre a do outro.
A obra de Platão tenta amadurecer a visão do homem quanto às peculiaridades do Amor, não apenas exultando-o como no discurso de Agaton, mas sendo realista quanto aos sofrimentos, fracassos, desilusões e a eterna busca. Afinal, Platão foi discípulo de Sócrates, que já dizia: "O amor é uma perigosa doença mental".
Por Eriluce Andrade
3° período de Cienc. Biológicas

Nenhum comentário:

Postar um comentário