sexta-feira, 22 de maio de 2009

Remédios do Amor

Os remédios do amor e o amor sem remédio são as quatro coisas, e uma só, de que
prometi falar, porque, sendo a enfermidade do amor a que tirou a vida ao
Autor da vida, não se pode mostrar que foi amor sem remédio, sem se dizer
juntamente quais sejam os remédios do amor
Você já pensou no amor como uma doença? Até hoje não tinha pensado desse jeito. Mas, foi partindo dessa premissa que o Pe. Antônio Vieira escreveu o Sermão do Mandato, texto que escolhemos para discutir na reunião da sexta-feira 08/05/2009.


O texto data de 1643, mas permanece atual. Como se pode ver na epígrafe acima, Antônio Vieira traz no texto quais seriam os remédios capazes de curar o mal que é o amor, mas ressalta que nem mesmo a droga mais forte é capaz de curar o amor sem remédio, que é o amor de Deus.

Mas e quais seriam os remédios que curam o amor terreno?
  1. Tempo. O tempo tudo cura, tudo faz esquecer, tudo digere, tudo acaba. E por que ele faz isso? porque o tempo tira a novidade às coisas. Se o ferro gasta-se com uso quiçá o amor que reside num coração de carne. Eis o primeiro remédio.
  2. Ausência. O amor não é união de lugares, mas de vontades. Entretanto, basta que a distãncia separe duas pessoas e a ausência cumpre seu ofício: apartar, e depois que aparta esfria. Eis que surge a saudade, quem a encara como tempero sorevive, quem a trata como sofrimento aparta.
  3. Ingratidão. Em medicina freqüentemente os remédios mais fortes são os mais violentos (quimioterapia, cirurgia, etc). Com o amor não é diferente: a ingratidão é o mais volento dos remédios, e o mais eficaz. Se o amor resistiu ao tempo e à ausência, dificilmente resistirá à ingratidão. Por quê? O tempo tira ao amor a novidade, a ausência tira-lhe a comunicação, mas a ingratidão tira-lhe o motivo.
  4. Melhorar de objeto. Assim como o maior contrário da luz não são as trevas, e sim outra luz maior, o maior contrário do amor não é o ódio, mas um amor maior. "Um amor com outro se apaga". Pois este seria, o último remédio do amor que, ironicamente, é o próprio amor.
Para evidenciar a contemporaneidade do texto de Antônio Vieira, trago Vinícius de Moraes para um "confronto":
Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Vinícius de Moraes
Vemos aqui, pelo menos dois dos remédios do amor citados. O primeiro deles seria Melhorar de Objeto. Vinícius mostra-se disposto a não deixar que seu amor seja ofuscado por um amor maior quando lemos a primeira estrofe, pricipalmente em: "Que mesmo em face de maior encanto/ Dele se encante mais meu pensamento".
Já na última estrofe, vemos o tempo, ele de antemão sabe que seu amor não durará para sempre, mas deseja que seja infinito enquanto dure. Neste ponto Soneto de Fidelidade vai de encontro ao Sermão da Montanha, uma vez que para Antônio Vieira (citando Santo Agostinho): "O amor que é verdadeiro tem a obrigação de ser eterno, porque, se em algum momento deixou de ser, nunca foi amor".
Finalizo a postagem com algo mais romântico, algo que conforte o coração de quem ama diante de um texto tão conturbador. A canção é de Djavan, o trecho em negrito resume a essência desse sentimento.
Pétala

O seu amor
Reluz
Que nem riqueza
Asa do meu destino
Clareza do tino
Pétala
De estrela caindo
Bem devagar...

Oh! meu amor!
Viver
É todo sacrifício
Feito em seu nome
Quanto mais desejo
Um beijo, um beijo seu
Muito mais eu vejo
Gosto em viver
Viver!

Por ser exato
O amor não cabe em si
Por ser encantado
O amor revela-se
Por ser amor
Invade
E fim!!...


Djavan

3 comentários:

  1. O amor é um sentimento transitório, um dia podemos senti-lo com tal intensidade, no outro dia essa intensidade pode estar diminuída, no outro ele pode nem existir.

    "...Que não seja imortal, posto que é chama
    Mas que seja infinito enquanto dure."

    Esse trecho do soneto da fidelidade, para mim, é a melhor definição do que o amor, um sentimento muito gostoso de se viver, porém seu fim pode causar muita dor, mas essa parte do soneto da fidelidade diz tudo, como um chama, ele se apaga. O importante, é vivermos cada amor com a intensidade máxima...e não enxergar apenas o fim de um amor, mas sim o início de outro amor.

    Gabriela Dantas de Santa Cruz

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  2. http://tropatrupe.blogspot.com/2009/06/decima-variete-sera-nesta-sexta-0307.html
    oh pessoal...
    ainda não faço parte do grupo...
    mas creio que na próxima reunião estarei presente...
    essa é a programação da varietè.
    evento organizado pelo pessoal de artes da UFRN.
    quem estiver por natal...
    pode aparecer por lá.
    as vezes, nem pagando, conseguimos ver tantas coisas interessantes juntas...
    um grande abraço e boas férias pra todos
    José Fernandes Jr.

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  3. oh pessoal...
    ainda não faço parte do grupo...
    mas creio que na próxima reunião estarei presente...
    esse link mostra a programação da varietè.
    http://tropatrupe.blogspot.com/2009/06/decima-variete-sera-nesta-sexta-0307.html
    evento organizado pelo pessoal de artes da UFRN.
    quem estiver por natal...
    pode aparecer por lá.
    vale muito à pena!
    as vezes, nem pagando, conseguimos ver tantas coisas interessantes juntas...
    um grande abraço e boas férias pra todos
    José Fernandes Jr.

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