sábado, 24 de janeiro de 2009

Mar Adentro

Mar Adentro

"Mar adentro, mar adentro
e nesse fundo onde não há mais peso,
onde se realizam os sonhos,
se juntam as vontades
para cumprir um desejo.

Um beijo acende a vida
com um relâmpago e um trovão,
e em uma metamorfose
meu corpo já não é mais meu corpo
é como penetrar o centro do universo

O abraço mais pueril
e o mais puro dos beijos,
até vermo-nos reduzidos
a um único desejo:

Seu olhar e meu olhar
como um eco se repetindo, sem palavras:
mais adentro, mais adentro,
até mais além de todo o resto
pelo sangue e pelos ossos

Mas me desperto sempre
e sempre quero estar morto
para seguir com minha boca
enredada em teus cabelos"
Ramón Sampedro









A constância dos temas morte, suicídio, liberdade, em nossas reuniões, finalmente nos leva ao tema Eutanásia. Não, não fazemos apologia ao suicídio, nem desejamos a morte, sequer temos, como grupo, a intenção de posicionarmos a favor ou contra a eutanásia. Discutimos o tema para buscar entender as diversas faces da verdade (e como ela tem face!).

Conhecer, descobrir e discutir tema tão complexo nos prepara para a dura realidade que enfrentaremos no trabalho de campo que desejamos realizar. Buscar entender a verdade do paciente, colocarmo-nos no lugar dele, livrarmo-nos dos preconceitos que carregamos, com certeza nos será fundamental para que alcancemos nossos objetivos: ajudar.


Na reunião desta sexta-feira (23/01/2009) assistimos ao filme Mar Adentro, produção espanhola que conta a história de Ramón Sampedro. Ramón fica tetraplégico aos 19 anos após um traumatismo de coluna cervical. Diz que durante os 29 anos que esteve nessa condição, não encontrou a felicidade, apenas o tempo passando contra sua vontade, e fixa-se ao desejo de morrer.

Talvez Ramón tenha se tornado objeto de seus sintomas, talvez ela não tenha pensado no que diz Jean-Yves Leloup:”Você é o sujeito. E o sujeito é maior que os objetos que fazem você sofrer”. A fixação de Ramón pode ter impedido-o de observar que a felicidade está no caminho (este caminho tem um coração?).

Bem, a história do filme é real e maiores informações podem ser encontradas no livro Cartas do Inferno, do próprio Ramón Sampedro, que conta de modo pessoal sua verdade sobre esta situção, condição (el individuo es siempre él y sus circunstancias).



PS.: Damos as boas-vindas a Karina, que se juntou à A.M.A.R.T.E. nesta reunião.

3 comentários:

  1. Realmente a temática da eutanásia é um tanto polêmica, mas é importante discuti-la para podermos nos colocar no lugar daqueles que sofrem. Mais do que tudo, acredito que essa foi a lição que ficou nessa reunião.
    "Egoísmo não é viver à nossa maneira, mas desejar que os outros vivam como nós queremos." (Oscar Wilde),infelizmente o ser humano é por si só egoísta, o que torna árdua a tarefa de "se colocar no lugar do outro".
    Vamos refletir!!
    Ariadne Cruz

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  2. Uma frase que Ramón disse no filme e que para mim esclarece o modo como ele pensa e me faz entender o porquê de uma pessoa não querer lutar pela vida: " Uma liberdade que limita a vida, não é liberdade e uma vida que limita a liberdade, não é vida"
    Desse modo, é realmente um egoísmo muito grande, permitir que uma pessoa vida por 28 anos 4 meses e alguns dia, buscando morrer, não querrendo ser totalmente dependente. Apesar do excelente tratamento que a família dava a Ramón.
    É importante, pensarmos em situações como essas.
    Gabriela Dantas de Santa Cruz

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  3. Puxa, fui procurar blogs semelhantes ao meu e, sem querer cheguei a este blog, que também fala de arte vista por olhos médicos.
    O que é ruim disto? Fico triste em não poder fazer parte deste seleto grupo de discussão da AMARTE. O lado bom, é que este blog me permitirá acompanhar pelo menos por aqui tais discussões.
    Fico muito feliz MESMO em saber que é grande o número de pessoas que se interessam por arte dentro da medicina.
    Abraço e parabéns.
    Andrea

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